Brasil: um novo Vale do Silício?

quinta-feira, agosto 13, 2009

Por Flávio Amaral *



Ao ler no caderno Link, do jornal "O Estado de S. Paulo", que o Brasil já é a maior base de usuários do Twitter no mundo, fiquei ainda mais convencido que a frase "o Brasil é País do Futuro" é verdade novamente e que, em alguns anos, seremos um novo Vale do Silício.

Sim, poderemos reproduzir aqui no Brasil uma concentração de empresas de tecnologia nos mesmos moldes que hoje é encontrada no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos. Os motivos que me fazem acreditar nisso é que nos tornamos o grupo de usuários mais numeroso em qualquer produto que tenha como característica principal a interatividade. E a velocidade com que isso acontece é realmente impressionante. Em alguns casos, leva apenas meses para que brasileiros populem essas ferramentas, enquanto em outros países pode-se levar anos. Mesmo ocupando a quinta colocação em termos de base de usuários de Internet, lá estamos nós, brasileiros, nas primeiras posições dos produtos mais populares. Isso sem falar que temos uma penetração de usuários bem menor do que em países desenvolvidos.

Para citar alguns exemplos, estamos entre as maiores bases mundiais de usuários nos seguintes produtos: MSN (1º lugar), Orkut (1º lugar), Twitter (1º lugar) e Yahoo! Respostas (2º lugar).

Durante minha vida profissional no mundo da Internet, pude observar que as empresas de tecnologia começaram seu foco nos Estados Unidos (país onde tudo começou). Depois, a atenção mudou para países asiáticos, onde a adoção de novas tecnologias era mais rápida que nos Estados Unidos. Agora, parece que o Brasil ganhou finalmente uma posição de destaques dessas empresas e elas estão olhando com muito bons olhos para o nosso mercado. Isso pode significar a abertura de centros de desenvolvimento no país e lançamentos de produtos no Brasil antes do que em outros lugares. E isso não é opinião apenas minha, no caderno Link desta semana, o próprio Mark Zuckerberg, criador do site Facebook, falou exatamente isso: "Se quisermos fazer sucesso em todos os países grandes, temos de fazer sucesso no Brasil".

Paul Graham, um dos pioneiros da Internet, que criou a primeira aplicação funcionando 100% na Web, a ViaWeb, escreveu um artigo sobre o que seria necessário para outro lugar reproduzir o Vale do Silício da Califórnia. Ele diz que seriam necessários pelo menos uma universidade de primeira linha por perto, um lugar onde pessoas ricas gostem de morar e um ambiente propício para atrair empresas inciantes.

O Brasil possui boas universidades, pessoas ricas moram aqui, mas temos pouquíssimas condições para atrair e criar empresas de tecnologia. Ironicamente, ele fala que se algum governante investisse o valor de um estádio de futebol em fundos para a criação de empresas iniciantes (as famosas startups), um ambiente inicial com algumas dezenas de empresas poderia ser criado. Aqui no Brasil, iremos preferir, sem dúvida, o estádio.

Já que o Brasil é o primeiro em uso de alguns produtos, pergunto-me quantos(as) usuários(as) já não tiveram excelentes idéias de como fazer um produto melhor, ou criar outro que conquistasse o mundo? Quantos desses projetos nunca foram para frente devido à falta de incentivo e às dificuldades e custos de se operar por aqui? Já imaginaram quantos iPhones não seriam vendidos aqui se replicássemos os valores praticados nos EUA? (99, 199 e 299 dólares).

O Yahoo! Brasil é o berço de um produto inovador, o Meme, um concorrente do Twitter, mas com mais recursos. A idéia surgiu aqui e foi criada 100% por brasileiros. O que mostra que podemos sim, criar coisas inovadoras.

Acredito que a lista de requisitos para tornar uma cidade brasileira um novo Vale do Silício é grande, mas existem alguns passos que podemos dar para iniciar o processo:

- Exigir dos nossos políticos investimentos maiores em educação. Mais pessoas educadas significa mais empreendedores, mais consumidores para os produtos de tecnologia, etc.;

- Uma reforma tributária para deixar o processo de pagar impostos fácil e menos oneroso para empresas iniciantes;

- Desoneração tributária em produtos de tecnologia (nacional ou importado). Hoje pagamos 100% ou mais de impostos em equipamentos de tecnologia importados (muitas vezes sem similar nacional). Ou seja, não estamos protegendo a indústria nacional porque não existe concorrente doméstico em alguns casos, estamos apenas atrasando o desenvolvimento;

- Desoneração tributária na transmissão de dados. Hoje, como já escrevi em um artigo sobre banda larga, 43,6% do valor que pagamos pelo serviço são impostos.

A lista, sem dúvida, é mais extensa, mas esses primeiros pontos já nos permitiriam começar a caminhar e também atrair investimento externo.

Para os leitores deste artigo lanço um desafio: que tal tentarmos fazer esse processo na velocidade típica de eventos da Internet? Os primeiros passos já podem ser dados na próxima eleição, em 2010. Vamos exigir dos nossos políticos o compromisso com o desenvolvimento do país e não vamos nos distanciar deles depois que forem eleitos. Lembrem-se que os salários deles são pagos com nossos impostos. Vendo por essa ótica, nós, como chefes, devemos informar claramente o que queremos e exigir relatórios periódicos do que foi feito. Afinal, não é dessa maneira que reportamos para nossos chefes? A cobrança constante vai lembrá-los que, na próxima eleição, eles deverão prestar contas do que fizeram.

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